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Blog montado com o intuito de divulgar projetos e pesquisas que deram certo baseados em experiências realizadas em escolas públicas do interior do estado de São Paulo.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Um projeto empreendedor
Por Joana Montes
O
projeto empreendedor da Sala de Recursos, em 2010, possuia como objetivo produzir quadros com pedaços de madeira. Após estudos sobre o artista
Cândido Portinari e Tarsila do Amaral os alunos produziram varias obras de arte. O objetivo era realizar
o sonho coletivo da sala: passear no shopping, tomar lanche, ir ao cinema,
ou seja, um passeio diferente para muitos. Para desenvolver o projeto
houve um processo de aprendizagem sequenciado. Primeiro conheceram as
técnicas de pinturas, depois fizeram estudos sobre os artistas.
Concomitantemente estudaram sobre reciclagem e a importância para o meio
ambiente. Os pedaços de madeira eram sobras de marcenarias que, gentilmente, ofertaram para o projeto. O resultado surgiu
com releituras das obras e criações próprias. No sábado Letivo, dia da
família, a professora do Laboratório de aprendizagem, Célia Coelho, e as
estagiárias auxiliaram na venda dos quadros. O resultado foi a união do
grupo.
OFICINAS DE ARTESANATO EM TECIDO E MODELAGEM
Durante
o ano foram feitas duas oficinas com a colaboração da Professora Eliana
Turquetto, uma das integrantes da Equipe de Educação Especial, em apoio à Sala de Recursos e ao Laboratório de
Aprendizagem. A professora fez, na primeira oficina, um histórico de
como surgiram os tecidos e, depois, com os alunos produziu flores e quadros. Em
outro momento, trabalhou com massa de modelar. A massa foi feita com farinha de
trigo e água que após modelada, deu origem a enfeites de Natal.
sábado, 14 de julho de 2012
Educação para a cidadania!
O lançamento do livro
Fragmentos foi no dia 14 de abril de 2011, na Bienal do Livro de São José dos
Campos. Promove um campo reflexivo de redes discursivas geradas pelas
comunicações efetuadas no audiovisual e no espectador. Este, mesmo que fora da
ação, participa do movimento e interfere ao posicionar-se. As imagens do
videoclipe A minha alma, do grupo O Rappa, liberam uma estratégia de comoção do
espectador, o qual absorve um sentimento de empatia com os participantes do
espetáculo. A tela televisiva torna-se enigmática ao liberar a representação do
conteúdo. Uma janela está aberta, instaurada no espaço manifesto e oculto comum
aos coadjuvantes, aos atores, aos espectadores e ao olhar solitário que se
esconde atrás das imagens, invisível.
R$ 59,00
Introdução à leitura de Lacan - FICHAMENTO
Momentos de estudo coletivo...
Joel Dor é Doutor em psicanálise, sua formação é transdisciplinar,
lógica e filosófica é autor de vários livros entre eles:
Introdução à leitura de Lacan – O inconsciente estruturado como
linguagem.
Abaixo, há um fichamento do primeiro capítulo, com o propósito de se
levantar algumas questões sobre o assunto, ocasionando reflexões e consenso
sobre o mesmo. Deixo expresso que a leitura é complexa e, por vezes, de difícil
assimilação, o que ocasionou em escrita na integra, ou seja, como no livro. Daí
surgiu à proposta de discussão sobre o texto. Em alguns momentos, busquei
respostas em outros textos, os quais serão referenciados no final.
Os contatos podem ser enviados pelo e-mail
joanabsmontes@gmail.com
ou deixados postados no site.
- RETORNO A FREUD
A teoria de Jacques Lacan encontra-se estruturada no campo freudiano. A
referência freudiana nada mais é do que uma referência a um certo modo de
apreensão e de intelecção do inconsciente e concomitantemente a um certo tipo
de prática codificada em relação a um tipo de investigação. Portanto, situa o
que é de ordem prática altamente psicanalítica em relação a outros
procedimentos de investigação do inconsciente. Tal investigação do inconsciente
está marcada por uma “inscrição psíquica”, não se tratando de uma entidade
abstrata ou metafísica.
Para Freud, os processos psíquicos encontram-se submetidos à dimensão
psíquica da linguagem e os pontos de apoio sustentados através da
transferência. O estudo da linguagem e da transferência, praticamente, foi
iniciado por Freud. Se uma prática analítica é uma prática de linguagem, nem
toda prática de linguagem é necessariamente psicanalítica. Sempre que um
sujeito dirige-se a outro, haverá transferência. Para tanto, é necessário que o
ambiente ofereça condições para efetuar-se. O que irá distinguir radicalmente a
prática analítica de outras práticas é o destino que será reservado à dimensão
da transferência.
É no registro da análise da transferência que se desdobrará a prática
analítica, no sentido de que ali reside o espaço operatório onde o paciente
pode ser convocado à investigação de seu próprio inconsciente e, por
conseguinte pode ver-se o mais seguramente confrontado com a questão de seu
desejo.” (DOR, P.12, 2003).
Lacan teve como principal preocupação trabalhar na reestruturação da
originalidade freudiana da experiência do inconsciente. Tal hipótese audaciosa,
“O inconsciente é estruturado como uma linguagem”, torna-se fundamental para
toda elaboração teórica lacaniana.
Para Freud, o sonho é uma charada, bem definido em suas investigações
(métodos de associações livres) como manifestações psicológicas como a obsessão
e a angustia. O método de associações livres permite identificar a significação
de manifestações psíquicas de origem inconscientes o que, nos métodos
hipnóticos e catárticos, encontram algumas insuficiências e impasses.
O sonho é um discurso dissimulado e disfarçado, no qual o sujeito perdeu
o código, mas cujo caráter de estranheza termina por livrar seu segredo num
discurso claro e significante (trabalho associativo). O sonho pode significar
algo totalmente diferente do que se é enunciado. Para Lacan, aparece como uma
propriedade induzida pela estrutura do sujeito falante. Para Freud, é um
sistema de elementos significantes análogos aos elementos significantes.
Lacan, em seus primeiros conceitos, sustenta a hipótese do inconsciente
estruturado como linguagem. Utiliza elementos da teoria freudiana do sonho para
fundar e apoiar a analogia estabelecida entre o funcionamento dos processos
inconscientes e o funcionamento de certos aspectos da linguagem, sustentada
numa perspectiva de concepção estrutural da linguagem, a qual teve início na
obra de Ferdinand de Saussure, a qual indica aos analistas em formação a
aprendizagem da lingüística (significante e significado).
O trabalho do sonho recorre a dois tipos de mecanismos fundamentais: a
condensação e o deslocamento. Freud observou a presença desses dois mecanismos
em suas observações empíricas. Constatou a diferença de “volume” entre o
material manifesto e os pensamentos latentes e a exigência de disfarce do
sentido intervindo ao nível dos pensamentos latentes do sonho. Distinguiu
vários tipos de condensação: a condensação por omissão, na qual a restituição
dos pensamentos latentes é muito lacunar ao conteúdo manifesto; a condensação
por meio de fusão, superposição do material latente cuja ilustração pode ser
apresentada pela elaboração das pessoas coletivas ou pela criação de
neologismos obtidos por combinações e fusões sucessivas.
As modificações introduzidas ao longo do sonho entre o conteúdo dos
pensamentos latentes e o material do conteúdo manifesto não se devem apenas aos
diversos processos de condensação. As ideias latentes encontram-se
representadas em relação ao conteúdo manifesto após sofrerem uma modificação
importante (inversão de valores ou inversão de sentido segundo Freud).
O trabalho do sonho dá origem a um deslocamento que torna obscuro ao
conteúdo manifesto o que era fundamentalmente significante nos pensamentos
latentes. Manifesta-se um poder psíquico que despoja elementos de alto valor
psíquico de sua identidade graças à sobredeterminação, dá valor maior a
elementos de menor importância, os quais podem penetrar no sonho, havendo
transferência e deslocamento das intensidades psíquicas dos diferentes
elementos.
A atitude estruturalista constitui uma reunião de elementos que compõe
um todo e a sua inter-relação com este todo. Esse sistema de relações não
aparece imediatamente. Esse procedimento impõe que nos desviemos provisoriamente
de um certo modo em relação ao objeto. Trata-se de renunciar um tipo de
descrição da natureza dos objetos, de suas qualidades, de suas propriedades
específicas. Consiste em dar a possibilidade de advir relações, aparentemente
dissimuladas, existentes entre eles ou entre seus elementos.
Existe uma hierarquia das estruturas, no sentido de que certas
estruturas mais fortes estão em condições de extinguir as estruturas mais
fracas. A definição de estrutura é também adequada ao estudo da linguagem.
Segundo Piaget, uma estrutura é um sistema de transformação que comporta
leis enquanto sistema (por oposição às propriedades dos elementos) e que se
conserva e se enriquece pelo próprio jogo de suas transformações sem que elas
ultrapassem suas fronteiras ou recorram a elementos exteriores.
Para ele, uma estrutura comporta três características: a totalidade, que
resultaria ao mesmo tempo da independência, dos elementos componentes, da
estrutura e do fato de que a reunião de todos os elementos é necessariamente
diferente da sua soma; a transformação que necessitaria de leis de composição
que definissem operações no interior de uma dada estrutura (estruturantes de
uma realidade já estruturada) e a auto-regulação que é a característica
essencial da estrutura, significando que esta é suscetível de autoconservar-se
(estabilidade do sistema).
Em lingüística, a idéia estruturalista surgiu com a introdução da
dimensão sincrônica no estudo da língua, não podendo ser reduzido a uma
perspectiva de descrição de uma língua ao longo de sua história, pois a
história de uma palavra não permite dar conta de uma significação presente. A
significação depende do sistema da língua, cujas leis de equilíbrio estão na
dependência direta da sincronia. Há uma relação fundamental entre o sentido e o
signo, que podemos observar somente do ponto de vista sincrônico. À medida que
a idéia estrutural revela propriedades radicalmente novas, passa a constituir a
base de uma abordagem especificamente operatória no campo lingüístico, propagando-se
a outros setores das ciências humanas. Lacan irá aplicar esta estratégia
estruturalista no terreno da psicanálise.
O sonho, para Lacan, tem a estrutura de uma frase, ou seja, uma charada,
que, na criança, é uma representação direta do sentido das palavras através de
sinais gráficos e, no adulto, reproduz o emprego fonético dos elementos
significantes. Freud ensina-nos a ler as intenções reveladas exteriormente onde
o sujeito modula o seu discurso onírico (relativo à natureza de sonho).
Lacan torna claro que a obra de Freud convoca a introdução de certos
conceitos da lingüística no campo teórico da psicanálise. A noção de estrutura
só é central na obra de Lacan à medida que ela é constantemente referenciada à
estrutura da linguagem, à qual o inconsciente deve ser relacionado, porque é do
próprio ato da linguagem que faz advir o inconsciente e o lugar onde ele se
exprime.
Saussure rompe com a concepção que faz pensar na unidade lingüística
como a associação de um termo a uma coisa. O signo lingüístico não une uma
coisa a um nome, mas um conceito a uma imagem acústica. Esta não se trata de um
som material, ou seja, físico, mas a marca física deste som. A representação é
dada por nossos sentidos. Ela é sensorial, sendo chamada de “material” apenas
neste sentido.
O signo lingüístico é a relação aparentemente fixa no sistema da língua,
é suscetível de modificações na dimensão da linguagem. As unidades
lingüísticas, enquanto entidades psíquicas, não procedem da fala; participam do
registro da língua., sendo a língua linguagem menos a fala. A linguagem é a
articulação de uma língua falada por um sujeito e por sua vez a fala parte da
linguagem que se manifesta como ato individual, por oposição à língua que é
social. Portanto, não podemos deixar de citar as expressões “marca
psíquica” e “representação”.
Podemos dizer que signo lingüístico é uma entidade psíquica de duas
faces, cujos elementos são instituídos numa relação de associação. É “relação”
e esta é aparentemente fixa no sistema da língua, sendo suscetível de
modificações na dimensão da linguagem.
O signo para Saussure exprime a unidade lingüística, preferindo
substituir significado por conceito e significante por imagem acústica,
tornando o signo a relação de um significado a um significante. Lacan explora
esta relação no sentido da autonomia do significante em relação ao significado,
a qual só é concebida na medida em que o significante e significado não estão
numa relação fixa.
O arbitrário do signo manifesta-se da própria associação do significante
do significado. Não parece existir elo necessário entre conceitos e a montagem
acústica que serve para representá-lo. Não significa que o signo tenha um
caráter aleatório, pois o arbitrário só vale para o conjunto de uma determinada
comunidade lingüística. É arbitrário em relação ao significado, o qual não tem
nenhuma relação natural com a realidade.
Nos esquizofrênicos encontramos distúrbios bastante profundos da
linguagem, parece que a estruturação delirante interpela a diferença que existe
entre caráter arbitrário do signo e caráter aleatório do signo. Para Freud, na
esquizofrenia as representações de palavras põem-se a funcionar como
representações de coisas.
Saussure esclarece, a partir da noção do signo lingüístico, a
possibilidade de associação do mecanismo de desconexão do significante e do
significado. Tal mecanismo levará Lacan a falar do “desenfreamento do
significante”, isto é, o efeito de uma alteração específica da utilização do
signo lingüístico. Para Saussure, seria o momento em que o significante depende
da livre escolha do sujeito falante. S. Leclaire diz que dois processos podem
intervir nesta alteração do signo, seja o significado encontrar-se associado a
qualquer significante, ou inversamente. Chegando a conclusão de que a
associação significado significante pode ser submetida às possibilidades de
combinações aleatórias.
Nos distúrbios psicopatológicos da linguagem como glossolalias, a
incidência do processo inconsciente na alteração do signo lingüístico é
manifesta além do caráter aleatório das associações significantes e
significados. Definimos glossolalias como a aptidão para inventar e falar
línguas novas, incompreensíveis para todos com exceção para aquele que fala.
Num certo número de casos estas linguagens se fixam e se enriquecem pouco a
pouco. O processo de associação é aleatório, porém extemporâneo. O sujeito está
alucinado pelo produto de suas próprias invenções lingüísticas, embora
freqüentemente fique espantado com tal construção. Trata-se do resultado de um
efeito de captura significante, na medida em que a estruturação do signo parece
estar completamente submetida ao processo primário do inconsciente.
O significante é livremente escolhido com relação à idéia que
representa. Depois de escolhido, passa a impor-se à comunidade lingüística, ou
seja, a massa falante, tornando-se imutável. O indivíduo é incapaz de
modificá-lo, assim como a massa não pode exercer soberania sobre uma única
palavra, pois está ligada a língua tal como ela é.
O arbitrário do signo é o que dá origem à submissão de uma comunidade
lingüística a língua. A palavra está ligada à língua tal como ela é,
sujeitando-se o indivíduo à língua. Sendo a alteração do signo resultado da
prática social da língua ao longo do tempo e a convenção arbitrária do signo,
ou seja, a livre escolha. A alteração do signo dá-se através de um deslocamento
da relação significado e significante. Significante, pois há uma
alteração fonética, e significado por haver uma modificação no conceito. Tais
alterações estão ligadas à prática da língua no tempo.
“A língua é comparável a uma folha de papel. O pensamento é a face, e o
som o verso; não se pode cortar a face sem cortar ao mesmo tempo o verso;
assim, também, na língua, não poderíamos isolar o som do pensamento, nem o
pensamento do som” (SAUSSURE).
Portanto, a alteração do signo está diretamente ligada à prática da
língua no tempo, e o fator tempo é dependente da natureza do significante. O
significante é uma seqüência fonética que se desloca no tempo. A fala, a
articulação torna presente o desenrolar temporal do significante dando origem à
propriedade fundamental da língua, ao qual chamamos de o eixo das oposições ou
eixo sistemático, o que Lacan designa como cadeia significante. A língua é
estruturada por estar fundada em um conjunto de elementos dados que são os
signos. É uma estrutura, pois além dos elementos, supõe leis que governam estes
elementos. Com a cadeia significante podemos observar dois problemas
específicos:
· O problema das
concatenações significativas;
· A questão das
substituições suscetíveis de intervir nos elementos significativos.
Tais problemas são sancionados em toda língua pela existência de leis
internas de natureza diferente, podendo a língua ser analisada segundo duas
dimensões ligadas às propriedades específicas: A dimensão sintagmática e a
dimensão paradigmática.
Falar implica efetuar duas séries de operações simultâneas: Selecionar
um certo número de unidades lingüísticas no léxico e combinar as unidades
lingüísticas escolhidas. Definindo, assim, um corte da linguagem em duas
direções: A seleção (eixo paradigmático) que supõe a escolha de um termo entre
outros, implicando numa possibilidade de substituição dos termos entre si e a
combinação (eixo sintagmático), que requer um certo tipo de articulação das
unidades lingüísticas, começando pela configuração de uma certa ordem nas
unidades de significação.
JAKOBSON considera o sistema da linguagem em função onde os termos se
encontram associados por similitude ou por contigüidade. Os seus estudos sobre
afazia o conduzem a esta conclusão. Ele isola dois grandes tipos de afazia que
podem ser distinguidos de acordo com o tipo de processo que esteja deteriorado:
“de seleção” ou “processo de combinação”. Quando a deterioração recai sobre a
escolha lexical (seleção), o afázico dificilmente encontra as palavras. Utiliza
no lugar da palavra procurada uma palavra que se encontra numa relação de
contigüidade com essa. Quando inversamente a deterioração recai sobre a
articulação dos termos lexicais (combinação), o afázico procede por similitude.
Estas duas síndromes evidenciam uma propriedade específica do discurso que se
desdobra segundo dois tipos de operações: as operações metafóricas (eixo das
seleções) e as operações metonímicas (eixo das combinações).
A metáfora e a metonímia nos conduzem igualmente a idéia fundamental de
Lacan da supremacia do significante e as suas conseqüências com relação às
formações do inconsciente.
Segundo Saussure, a cadeia falada é uma dupla cadeia: cadeia dos
conceitos e cadeia das imagens acústicas, de tal forma que toda delimitação
introduzida na cadeia das imagens acústicas corresponde uma delimitação subseqüente
na cadeia dos conceitos. Uma vez que se sabe existir uma certa firmeza entre
significante e significado, podemos imaginar que numa cadeia falada, toda vez
que se encontra um significante, este estará necessariamente ligado a um
significado. A imagem acústica pode estar ligada a dois signos lingüísticos
distintos, sendo que apenas o contexto da cadeia falada permite circunscrever a
significação. Ao dizer que o contexto delimita o signo, é afirmar que o signo
só é signo em função do contexto. O “valor do signo” é o que faz com que o
fragmento acústico torne-se real e concreto, que seja delimitado, fazendo
sentido, tornando-se signo lingüístico. Numa língua cada termo tem seu valor
por oposição a todos os outros termos. O valor receptivo das peças depende de
sua posição e o valor dos termos depende das regras.
Os signos lingüísticos não são somente significativos por seu conteúdo,
mas pelas relações de oposição que mantêm entre si na cadeia falada. É o
sistema que lhe dá uma identidade significativa.
A linguagem aparece como uma série de divisões simultaneamente
introduzidas num fluxo de pensamentos e num fluxo fônico. A língua elabora as
suas unidades ao constituir-se entre duas massas amorfas (não tem forma
definida), o signo lingüístico corresponde a uma articulação dessas massas
entre si. Uma idéia não se fixa apenas num som, mas em uma seqüência fônica que
se constitui como significante de uma idéia. Assim também na língua não podemos
isolar o som do pensamento, nem o pensamento do som. A língua não comporta nem
idéias, nem sons que preexistiriam ao sistema lingüístico, mas unicamente
diferenças fônicas e diferenças conceituais.
O significante provém de intervenções, que associamos a um conceito. O
surgimento do significante é indissociável do engendramento do signo
lingüístico em sua totalidade.
Para Lacan, o ponto-de-estofo é, antes de mais nada, a operação pela
qual “o significante detém, de forma indeterminada, o infinito da
significação”. Em outras palavras, é aquilo por meio do qual o significante se
associa ao significado na cadeia discursiva.
Cada signo só é significativo na relação de oposição que mantém com
todos os outros signos na seqüência falada. Podemos dizer que é sempre
retroativamente que um signo faz sentido na medida em que a significação de uma
mensagem só advém ao final de sua própria articulação significante.
No delírio tudo se passa como se houvesse uma invasão progressiva do
significante, no sentido de que o significante se libertaria pouco a pouco de
seu significado. Em geral, é sempre o significado que colocamos em primeiro
plano porque seguramente é o que há de mais sedutor na investigação simbólica
da psicanálise. Mas, ao desconhecer o papel mediador primordial do
significante, que é na realidade elemento guia, não somente desequilibramos a
compreensão original dos fenômenos neuróticos, mas tornamo-nos absolutamente
incapazes de compreender o que se passa nas psicoses.
A estruturação e a existência do conjunto do aparelho significante são
determinantes para os fenômenos presentes nas neuroses, pois o significante é o
instrumento pelo qual se exprime o significado. A oposição da metáfora e da
metonímia é fundamental. O que Freud chama de condensação é o que se chama, em
retórica, metáfora e o que chama de deslocamento, metonímia.
A metáfora (transposição do sentido próprio ao figurado) consiste em
designar alguma coisa por meio do nome de uma outra coisa. É, portanto,
substituição significante. A medida em que a metáfora mostra que os
significados extraem sua coerência unicamente da rede dos significantes, o
caráter desta substituição demonstra a autonomia do significante em relação ao
significado e, por sua vez, a supremacia do significante.
O processo metonímico (emprego de um nome por outro) impõe um novo
significante em relação a um significante anterior. A metonímia testemunha em
favor da autonomia dos significantes em relação à rede dos significados e,
conseqüentemente, em favor da supremacia do significante.
As noções de metáfora e metonímia constituem, na perspectiva Lacaniana,
duas das pedras fundamentais da concepção estrutural do processo inconsciente.
Estando na origem dos mecanismos que regulam geralmente o princípio do
funcionamento inconsciente, evidenciamos a aplicação desses dois paradigmas
tanto ao nível do processo primário, como ao nível das formações do
inconsciente.
A condensação é o modo de funcionamento dos processos inconscientes,
através do qual várias cadeias associativas concentram-se numa única
representação (sonho). Pode ser considerada como semelhante a uma substituição
significante. A condensação que Freud designa por formação compósita é, na
mesma medida, representativa da intervenção de um mecanismo metafórico, cujos
elementos latentes, que apresentam características em comum, irão fundir-se entre
si e estarão representados ao nível manifesto por um único elemento. Exemplo;
“pessoas compostas”, “figuras coletivas”, “composições neológicas” que povoam
os sonhos.
No decorrer do trabalho do sonho, os materiais nem sempre são
condensados. A maior parte do material latente pode estar representado ao nível
manifesto. Esses materiais latentes não se encontram representados como
tais, com exceção dos sonhos de crianças. A representação manifesta induzirá
uma inversão de valores, tal deslocamento de valores induzirá um
deslocamento do sentido.
Nos sonhos irracionais, o deslocamento do valor é, na maioria das vezes,
total e o essencial do material latente torna-se perfeitamente acessório no
nível manifesto. Nestas condições identifica-se neste mecanismo a própria
configuração do processo metonímico. Por conseguinte, representar o essencial
pelo acessório é, de certa maneira, representar o todo pela parte.
Se no sonho o acessório manifesto exprime o primordial latente com a
ajuda de uma construção metonímica, ainda assim a relação de contigüidade entre
os significantes nunca aparece de forma tão evidente quanto nas elaborações
metonímicas da linguagem. Esta relação de contigüidade só pode ser evidenciada
por associações. Todo trabalho associativo permitirá decodificar a significação
latente, metonimicamente disfarçada a nível do conteúdo manifesto do sonho.
Em geral, o processo global do trabalho do sonho é um grande
empreendimento metonímico. É sustentado por um mecanismo geral de transferência
de denominação, ao que Freud chama de disfarce ou dissimulação do sentido. O
sonho só resiste à significação na medida em que esta resistência é,
justamente, o produto do trabalho do sonho. Lacan coloca que a resistência à
significação da metonímia deve-se ao fato de que a metonímia é sempre o não
sentido aparente.
A resistência à significação depende da cadeia dos diversos
materiais intermediários postos em conexão pelo próprio trabalho do sonho,
percorrendo a cadeia destes materiais em contigüidade, tratando-se de percorrer
o caminho trilhado pelo processo metonímico.
A análise estrutural entre certos processos de linguagem e certos
processos inconscientes identifica-se, além do sonho, em outras formações do
inconsciente para não dizer em todas. O dito espirituoso é uma delas e
apresenta a vantagem de conjugar simultaneamente a condensação metafórica e o
deslocamento metonímico. Freud percebeu a identidade de estrutura que podia
existir entre o mecanismo da condensação e a construção de certos ditos
espirituosos. O dito espirituoso procede igualmente por substituições, logo,
por metáforas. A elaboração pode utilizar uma outra técnica explorando o
registro inconsciente do deslocamento que, segundo Freud, reside no desvio do
curso do pensamento, no deslocamento da importância psíquica de um tema
primitivo para um tema diferente. O dito espirituoso estruturado de modo
metonímico advém no lugar de uma outra formação do inconsciente: o lapso. A
formação do inconsciente “mista” revelará sua solução explicativa numa série de
associações que trarão à luz a construção metonímica subjacente.
Lacan observa que o sintoma resolve inteiramente uma análise de
linguagem, porque ele próprio está estruturado como uma linguagem, porque é
linguagem cuja palavra deve ser liberada. O sintoma é um retorno da verdade.
Ele não interpreta a não ser na ordem do significante, que só tem sentido em
sua relação com outro significante. Da mesma forma, se o sintoma é uma metáfora
não é metáfora dizê-lo, pois o sintoma é uma metáfora quer queira ou não
dizê-lo. O sintoma constitui uma justificativa suplementar à tese do
inconsciente estruturado como uma linguagem.
Depois de alguns dias postarei o 2º e 3º capítulos...
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