O
século XXI iniciou-se marcado por vários conflitos que interferiram e
interferem, consideravelmente, nas decisões econômicas, socioculturais e políticas.
Da mesma forma, o fenômeno da globalização, causado pela influência
comunicacional e tecnológica, torna espaço e tempo cada vez mais reduzidos e,
como conseqüência, o ser humano fica fragilizado neste ambiente de complexidade
e incertezas futuras.
As
mudanças são rápidas, tanto na economia, na política como na vida das pessoas.
O capitalismo toma conta da sociedade. A ideia de consumo faz-se presente no
cotidiano e o sujeito parece passar a valer menos que os produtos (COSTA, 2004).
No
conceito de destotalização, Gumbrecht (1998, p. 144) elenca que o campo da
não-hermenêutica
contribui para se observar o mundo não mais centrado na figura do sujeito, mas
de acordo com a emergência do sentido, pois o futuro é incerto. Tal conceito se
inscreve e descreve um esteticismo que diz respeito às grandes abstrações. A
interação com o processo pauta-se de diferentes formas: desde o sentimento de
si para com o outro até as diversas técnicas que avançam desordenadamente,
tornando-se, por vezes, difícil de acompanhar o sistema.
O
mesmo autor, em seu conceito de destemporalização dominante, define que ao
mesmo tempo em que o futuro, no contemporâneo, está aberto à seleção de opções,
encontra-se também bloqueado, pois é impossível prevê-lo. Observa-se que o
presente domina a cena. Tempo e espaço confundem-se. O que antes era
impossível, agora não possui mais bloqueios, fato que se observa pela
velocidade das informações obtidas mundialmente a partir da internet, sobretudo
a internet com banda larga (GARCIA, 2008, p.137).
Já no
seu conceito sobre a desreferencialização, o autor cita a experiência do
trabalho humano, que traz a sensação de enfraquecimento do contato com o mundo
externo. O sujeito move-se num espaço pleno de representações que já não contam
com a referência segura de um mundo externo.
O
contemporâneo torna-se cada vez mais multidimensional, isto é, abrange
múltiplos aspectos. Como já visto, presente e futuro se confundem e as
distâncias não apresentam mais obstáculo para a transmissão de saberes. De acordo
com Homi Bhabha, “espaço e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de
diferenças e identidades, de passado e presente, interior e exterior, inclusão
e exclusão” (BHABHA, 2005, p. 19).
Nessa
produção, as identidades se misturam e formam novas identidades, de certo modo
até mesmo mais elaboradas e aceitas na atualidade, em um diálogo reflexivo
sobre a diversidade.
Para
Hall (2006, p. 7), ”velhas identidades, costumes e tradições que durante muito
tempo estabilizaram o mundo social estão declinando, ao formar novas
identidades”. Segundo o autor esse fenômeno recebe o nome de crise de
identidade, pois, abala a estabilidade e fragmenta-as tornando-as vulneráveis. Percebe-se
que o processo de identificação no qual o sujeito se projeta tornou-se variável
e problemático. A mudança estrutural da sociedade contemporânea transforma o
cenário físico e psíquico, movimento que faz pensar na mudança do indivíduo
enquanto sujeito.
Busca-se,
no mundo, o resgate da identidade ao reformular o pensar sobre a diversidade. Neste
cenário conflitante, surge a educação como fator determinante que pode
modificar pensamentos e atitudes. Tal pensar implica preparar o sujeito para
rápidas mudanças da atualidade.
A ideia está em evidenciar as diferenças
culturais, constituindo estratégias de criação de traços identitários (HALL,
2006), para, deste modo, prever valores vindos da noção de sociedade. Torna-se
emergente a reflexão dos domínios das diferenças, pois, mesmo dentro das
comunidades cujas histórias se comunicam, valores dialogam de forma conflituosa
e excludente. Constata-se tais questões na história de diferentes culturas e
raças, na violência e vitimização social que ora se observa no mundo atual.
Para
Bhabha (2005), a articulação social da diferença vista pela ótica da minoria se
faz complexa em um momento de transformação histórica na atualidade. Ainda
segundo o autor, as fronteiras culturais podem possibilitar o consenso ou o
conflito, confundir ou definir posições. Visto dessa forma, refletir
diversidade cultural não se restringe, apenas, ao reconhecimento do outro, e
sim pensar no eu e no outro. Trata-se der uma leitura política, porque discute
a relação entre indivíduos e a formação de identidades.
Ao
falar sobre diferenças sociais, econômicas, físicas, culturais, raciais e
ideológicas, tematiza-se a cidadania e fortalece a identidade. Dialogar com
diferentes realidades remete pensar em abordar e desenvolver ações que venham
suprimir preconceitos e discriminações advindos de diversos pontos da
sociedade.