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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Cidadão Surdo




A língua de sinais – Libras  (Língua brasileira de sinais) expressa ideias simples e abstratas. Através dela pode-se discutir política, filosofia, fazer histórias e poesias e comunicar-se com o outro. As palavras (léxico) utilizadas na língua oral auditiva são denominadas “sinais” em Libras, que combinam o movimento das mãos em um determinado lugar do corpo ou do espaço. A Libras (Língua brasileira de sinais) possui uma corrente de significados que unem surdos e ouvintes e por ela vê-se a possibilidade / desejo de criar-se um elo que acolha as diferenças sem hierarquias ou imposições para, desta forma, ultrapassar as fronteiras, sem retornar ao passado, seguindo ao encontro do futuro da globalidade. Em outras palavras, torna-se indispensável formar a ideia de uma sociedade inclusiva, que acolha e respeite as diferenças individuais. 
A notação léxica em Libras possui características básicas que traduzem experiências acumuladas da sociedade surda. Trata-se de um patrimônio cultural de uma comunidade que através da história passou por constantes evoluções. O léxico é um inventário aberto de palavras que por sua vez forma um vocabulário para efetivação do processo comunicativo. Entende-se desta forma que o vocabulário se faz da seleção e emprego pessoal do léxico (acervo de palavras). Isto implica que quanto maior o conhecimento do vocabulário haverá mais possibilidades de comunicação. 
Em Libras as palavras resultam de uma combinação de signos, gestos e expressões que acopladas a movimentos de mãos no espaço formam a linguagem. Na Língua Portuguesa número, gênero e pessoa fazem parte da estrutura interna das palavras. Portanto, a Libras é formada por uma modalidade gestual, visual e espacial indicada pela configuração das mãos, região de contato ou ponto de articulação, movimento, orientação e expressão facial e / ou corporal. A ambiguidade léxica ocorre quando um determinado sinal apresenta significados alternativos. Neste, o sentido da palavra irá se configurar de acordo com o contexto do evento.  Em Libras a notação de nomes com mais de uma palavra se dá com movimentos com ou sem trajetória. Por exemplo, LEITE – consiste em mover a mão por duas vezes a alguns centímetros à frente do peito e ao longo do movimento. Configura-se a mão passando de C para S. Já a palavra igreja é representada por dois sinais: o sinal de casa mais cruz. Na representação de nomes próprios utiliza-se a datilologia ou soletração digital. Portanto, para representar LUCIANA, RICARDO e ISABELA apresenta-se a configuração de mão das letras do alfabeto.
L + U + C + I + A + N +  A
R + I + C + A + R + D + O
I + S + A + B + E + L + A
A datilologia (alfabeto manual) é utilizada para expressar o nome das pessoas, localidades ou palavras que não possuem sinais. Não há indicação de classe, gênero e número em Libras, como na representação da Língua Portuguesa. Porém, para indicar estas marcas em Libras utiliza-se o símbolo @, com o intuito de reforçar a ideia de ausência e não gerar confusão. Exemplo: AMIG@ (amigo / amiga); FRI@ (frio / fria).

A língua é um marco de uma identidade e se faz forte com o tempo. Para Maturama (1995), 

O caminho da liberdade é a criação de circunstâncias que libertam o ser social, seus profundos impulsos de solidariedade para com o ser humano. Se pudéssemos recuperar para a sociedade humana a natural confiança das crianças nos adultos, isso seria a maior conquista da inteligência, operando no amor jamais imaginado".

Vê-se que é no comunicar que se constrói o ser social. Não se pode falar de surdez sem falar em linguagem. Para entender as questões de linguagem é necessário entender que se trata da expressão do pensamento e uma forma de interação. No entanto, ela se dá entre o eu e o outro e vai muito além da interação. Segundo Bakitin, sujeito se faz sujeito pela linguagem e através dela constrói seu conhecimento. É pela interação que há a construção do conhecimento. Para Bakitin não existe construção de conhecimento fora da linguagem. A criança aprende ouvindo e o surdo aprende interagindo.
Nos primórdios, mais precisamente na Idade Média, a concepção que os homens tinham dos surdos era de pessoas não pensantes, pois naquela época entendiam que para pensar era necessário que se utilizasse a fala. Para eles, então, os surdos eram conceituados como pessoas primitivas e os gestos não tinham significado de língua. Como qualquer outro deficiente, o surdo era considerado pessoa marginalizada (que vivia à margem), tido como anormal. Muitos, na Grécia antiga, foram jogados de penhascos. Os surdos viviam no isolamento, sem direitos. Inicialmente, eram considerados pessoas não educáveis.


A educação dos surdos iniciou-se na Europa ao utilizar símbolos escritos com desenhos e mímicas e em 1555, na Espanha, passaram a utilizar a língua de sinais como elo de comunicação entre surdos e ouvintes. Na França, o Abade Michel de L’Epée criou o Instituto Nacional dos Surdos para ensinar a leitura e a escrita e transmitir a cultura. Naquela época já havia em seus apontamentos observações sobre a linguagem gestual. No entanto, o método de aprendizagem para os surdos continuava com a orientação oralista para ensinar os surdos. Após o Congresso de Milão, evento que ficou conhecido como preconceituoso e repressivo, a França passou a proibir qualquer outra abordagem que não fosse a oral para ensinar os surdos.
Ainda hoje, a grande preocupação dos educadores quando recebe um aluno surdo é como fazer com que ele se aproprie da leitura e da escrita. O grande obstáculo é a não formação do educador para atender este aluno, pois a grande maioria dos educadores acredita que o surdo deva ser capaz de ler e escrever textos em Língua Portuguesa.
O surdo consegue decodificar os símbolos e aprender com facilidade, porém a Língua Portuguesa para ele seria a sua segunda língua, ao passo que para os ouvintes seria a primeira. Visto desta forma, precisa-se alfabetizar o surdo em Libras e concomitantemente oferecer a Língua Portuguesa para que possa se comunicar com o grupo social e vice-versa, pois o grupo tende a se apropriar da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Pensa-se ser esta a melhor forma de integrar o surdo ao grupo.
A declaração mundial sobre educação para todos determina que seja oportunizado a todos o acesso a leitura, a escrita, a expressão oral, o cálculo e a resolução de problemas. Isso significa que os conhecimentos básicos da educação devam ser oferecidos e oportunizados de forma a ampliar as habilidades, os valores e as atitudes necessárias para a convivência humana.
A integração de ações de políticas governamentais com a sociedade e a escola podem vir a suprir as necessidades locais, culturais, educacionais e gerar projetos para diminuir as desigualdades, através da educação. Isso, entretanto, requer integrar novos conhecimentos na busca de ações que revertam o quadro de exclusão observado no contemporâneo.
O contemporâneo exige que o homem aprenda a ler o mundo em contato com o outro. Pensando na utilização da Libras nas salas de aula, percebe-se que tal elemento pode ser decodificado e transformado em “novos” conhecimentos. Neste pensar, ouvintes e surdos podem estabelecer vínculos culturais que favorecerão a ambos. Nesta perspectiva, percebe-se que o sujeito tem que adquirir a habilidade de ver, ouvir e falar sobre as imagens experimentadas ao longo de sua história, de modo a atender à complexidade da diversidade do mundo globalizado.
Vê-se a possibilidade de criar, através do processo de ensino-aprendizagem, uma sociedade mais humana e sensível. A sensibilidade pode ser definida como a capacidade de experimentar as imagens que o mundo oferece e a imaginação/intuição vem da possibilidade de transformar as cenas percebidas no mundo em outras leituras. Dessa maneira, a sociedade e a escola abrem-se à reflexão e ao diálogo ampliado. Ambas traduzem oportunidades na elaboração de valores sustentados na valorização dos direitos humanos e dos bens naturais.



sábado, 9 de fevereiro de 2013

Um Pensamento Complexo



As experiências e saberes do mundo são formados por ideias e noções construídas e reconstruídas com a sociedade. Tal contexto promove o contrastar de ideias sobre a complexidade da diversidade no contemporâneo. O confronto de ideias e a união das mesmas transformam-se, simultaneamente, em saberes diferenciados e mais apropriados à atualidade. Para Platão, no mundo das ideias, a ideia do bem, que representa o divino, possui uma realidade complexa das quais dependem outras idéias - valores éticos, estéticos, lógicos - que se manifestam no mundo sensível. 
Da interação entre os indivíduos e o pensar sobre o mundo, o homem observa e descreve caminhos ao encontro do sujeito social no contemporâneo. Isso implica atender à diversidade, vínculos e parcerias. Resgatar e reinventar novas maneiras de ver/ler o mundo e a transformação das culturas e sua complexidade.
Segundo Morin (2007, p. 21), a partir de um contexto, oportuniza-se o pensar globalizado para atingir a complexidade do indivíduo. Busca-se, portanto, a superação da fragmentação da complexidade, pois, a velocidade das mudanças da atualidade exige um diálogo capaz de responder as mesmas.
Vê-se, desta forma, a necessidade de promover uma educação capaz de superar tais obstáculos, uma linha de pensamento que coopere entre si. Tem-se que refletir o contexto e o complexo, para redefinir pensamentos e projetar para o futuro um saber diferente capaz de entender a diversidade social, cultural e política.
Para o autor, “o pensamento contextual busca sempre a relação de inseparabilidade e as inter-retroações” (IDEM, 2007, p. 21), ou seja, um retorno ao passado. Voltar-se para si e transformar-se. Trata-se de buscar informações no outro e regressar para si, reestruturar o pensamento e retornar ao outro com as respostas adquiridas neste ir e vir da construção do saber. O saber inerente ao ser humano interage e relaciona-se com diversas realidades. O contexto são as inter-relações de circunstâncias que acompanham os acontecimentos do mundo e os encadeamentos dos fatos e circunstâncias que são vivenciados.
Na atualidade, torna-se impossível prever o futuro porque a velocidade das informações transforma o hoje, e as mensagens/respostas serão diferentes no amanhã. As informações voláteis vindas das tecnologias de informação e comunicação são recebidas e reformuladas a cada instante, formando novos paradigmas. No futuro haverá outras realidades e outras vontades que, por sua vez, deixam o homem sem um roteiro definido para o amanhã, deixando-o desprotegido e sem direção.
Ao mesmo tempo, vê-se a proposta de solidariedade entre os agrupamentos para suprir as carências humanas colocadas por muitos autores da atualidade. Da interação entre os indivíduos e o pensar sobre o mundo complexo, o homem observa e descreve caminhos ao encontro do sujeito social no contemporâneo. Isso implica atender à diversidade, vínculos e parcerias. Resgatar e reinventar novas maneiras de ver/ler este contemporâneo e a transformação das culturas.