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sábado, 13 de abril de 2013

Vestígios da Educação Contemporânea


     O século XXI iniciou-se marcado por vários conflitos que interferiram e interferem, consideravelmente, nas decisões econômicas, socioculturais e políticas. Da mesma forma, o fenômeno da globalização, causado pela influência comunicacional e tecnológica, torna espaço e tempo cada vez mais reduzidos e, como conseqüência, o ser humano fica fragilizado neste ambiente de complexidade e incertezas futuras.
As mudanças são rápidas, tanto na economia, na política como na vida das pessoas. O capitalismo toma conta da sociedade. A ideia de consumo faz-se presente no cotidiano e o sujeito parece passar a valer menos que os produtos (COSTA, 2004).
No conceito de destotalização, Gumbrecht (1998, p. 144) elenca que o campo da não-hermenêutica[1] contribui para se observar o mundo não mais centrado na figura do sujeito, mas de acordo com a emergência do sentido, pois o futuro é incerto. Tal conceito se inscreve e descreve um esteticismo que diz respeito às grandes abstrações. A interação com o processo pauta-se de diferentes formas: desde o sentimento de si para com o outro até as diversas técnicas que avançam desordenadamente, tornando-se, por vezes, difícil de acompanhar o sistema.
O mesmo autor, em seu conceito de destemporalização dominante, define que ao mesmo tempo em que o futuro, no contemporâneo, está aberto à seleção de opções, encontra-se também bloqueado, pois é impossível prevê-lo. Observa-se que o presente domina a cena. Tempo e espaço confundem-se. O que antes era impossível, agora não possui mais bloqueios, fato que se observa pela velocidade das informações obtidas mundialmente a partir da internet, sobretudo a internet com banda larga (GARCIA, 2008, p.137).
Já no seu conceito sobre a desreferencialização, o autor cita a experiência do trabalho humano, que traz a sensação de enfraquecimento do contato com o mundo externo. O sujeito move-se num espaço pleno de representações que já não contam com a referência segura de um mundo externo.
O contemporâneo torna-se cada vez mais multidimensional, isto é, abrange múltiplos aspectos. Como já visto, presente e futuro se confundem e as distâncias não apresentam mais obstáculo para a transmissão de saberes. De acordo com Homi Bhabha, “espaço e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferenças e identidades, de passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão” (BHABHA, 2005, p. 19).
Nessa produção, as identidades se misturam e formam novas identidades, de certo modo até mesmo mais elaboradas e aceitas na atualidade, em um diálogo reflexivo sobre a diversidade.
Para Hall (2006, p. 7), ”velhas identidades, costumes e tradições que durante muito tempo estabilizaram o mundo social estão declinando, ao formar novas identidades”. Segundo o autor esse fenômeno recebe o nome de crise de identidade, pois, abala a estabilidade e fragmenta-as tornando-as vulneráveis. Percebe-se que o processo de identificação no qual o sujeito se projeta tornou-se variável e problemático. A mudança estrutural da sociedade contemporânea transforma o cenário físico e psíquico, movimento que faz pensar na mudança do indivíduo enquanto sujeito.
Busca-se, no mundo, o resgate da identidade ao reformular o pensar sobre a diversidade. Neste cenário conflitante, surge a educação como fator determinante que pode modificar pensamentos e atitudes. Tal pensar implica preparar o sujeito para rápidas mudanças da atualidade.
  A ideia está em evidenciar as diferenças culturais, constituindo estratégias de criação de traços identitários (HALL, 2006), para, deste modo, prever valores vindos da noção de sociedade. Torna-se emergente a reflexão dos domínios das diferenças, pois, mesmo dentro das comunidades cujas histórias se comunicam, valores dialogam de forma conflituosa e excludente. Constata-se tais questões na história de diferentes culturas e raças, na violência e vitimização social que ora se observa no mundo atual.
Para Bhabha (2005), a articulação social da diferença vista pela ótica da minoria se faz complexa em um momento de transformação histórica na atualidade. Ainda segundo o autor, as fronteiras culturais podem possibilitar o consenso ou o conflito, confundir ou definir posições. Visto dessa forma, refletir diversidade cultural não se restringe, apenas, ao reconhecimento do outro, e sim pensar no eu e no outro. Trata-se der uma leitura política, porque discute a relação entre indivíduos e a formação de identidades.
Ao falar sobre diferenças sociais, econômicas, físicas, culturais, raciais e ideológicas, tematiza-se a cidadania e fortalece a identidade. Dialogar com diferentes realidades remete pensar em abordar e desenvolver ações que venham suprimir preconceitos e discriminações advindos de diversos pontos da sociedade.


[1]  Segundo Gumbrecht (1998, p. 144) o campo da não-hemenêutica caracteriza-se para além da convergência do ato interpretativo capaz de associar pontos de vista distintos.

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