A aprendizagem depende de
como o processo educativo se organiza em suas diferentes dimensões, ou seja, de
condições mais objetivas. As propostas pedagógicas devem resultar da junção dos
objetivos de ensino e das possibilidades de aprendizagem do aluno. O conhecimento
prévio do aluno, a crença na própria capacidade, a disponibilidade e a
curiosidade para aprender, a valorização dos saberes que possui e o sentimento
de pertinência ao grupo são alguns dos fatores que explicam por que a partir de
um mesmo ensino há lugar para a construção de diferentes aprendizagens.
Bernard Shaw ao falar
sobre educação apresenta o conceito de "educação homeopática":
"Se você ensinar alguma coisa a um homem ele jamais a aprenderá".
Pode parecer uma afirmação radical, mas não quando vista em relação à rigorosa
e doutrinária escola do começo do século. Há algum tempo, quando falávamos de
classes heterogêneas, criava-se uma polêmica, pois a crença da época eram
classes homogêneas, a tal ponto que as escolas públicas estaduais faziam uma
triagem para verificar o nível dos alunos e separá-los em grupos fortes, fracos
e médios. Na realidade um ato utópico, pois mesmo assim separados podíamos
observar que os alunos ali agrupados nunca formavam um grupo homogêneo. Em se
tratando de grupos de pessoas nunca iremos encontrar uma que seja igual à outra.
Somos diferentes em essência, em DNA, em sinapses. Além de termos um DNA
próprio, temos a interferência do meio que nos estimula, adequando-nos a nossa
forma de vida. Portanto, uma sala homogênea torna-se impossível, teremos sempre
salas heterogêneas. A partir do momento que a
sociedade tomar ciência disso, será capaz de ingressar num mundo de
aprendizagem constante. Trabalhar com a diversidade nos faz crescer, pois é com
o saber do outro que completamos o nosso próprio saber. Nos anos setenta,
Pink Floyd, em sua música "Another Brick In The Wall" (Mais um tijolo
no muro), faz um pedido aos professores que deixem as crianças em paz, induzindo-nos a entender que o
sistema as transformava em máquinas, ou seja, colocava o ensino como mais um tijolo
no muro, simplesmente.
Saindo desta teoria
mecanicista, ingressamos paulatinamente na teoria construtivista e humanista,
onde trabalhar com a heterogeneidade torna-se fundamental. Para trabalhar com
os desiguais é necessário que saiba como fazê-lo. O professor deve assumir
a condição de ator da prática pedagógica, refletindo, buscando soluções,
construindo novas estratégias, tomando decisões, enfim, ter autonomia
intelectual diante de cada situação. Para tanto, é interessante que reflita sobre
a sua prática, se auto/avalie, trabalhe em parceria com a comunidade e,
principalmente, tenha disponibilidade para aprender.
Planejar situações
didáticas, intervir de forma diversificada, propondo perguntas que requeiram
níveis de esforço diferentes, oferecendo informações específicas que promovam
estabelecimento de novas relações, ouvir o aluno dizer sobre o que pensa para
chegar a uma determinada resposta e estimular o progresso pessoal, devem fazer
parte significativa da prática. Ao vivenciar a heterogeneidade
proporcionaremos o avanço intelectual do educando, dos professores e de todo um
grupo social, destacando a importância do papel do sujeito no processo de
aprendizagem. A adoção de estratégias mais participativas tem por objetivo
a valorização da escuta como vetor da aprendizagem significativa.
O ato de educar é um ato
ético de abrir caminhos. No entanto, para que haja formação, tem-se que pensar
o mundo, ou seja, formar idéias concebidas a partir das vivências. Portanto,
cidadania não se forma na ignorância. A escola é um espaço fértil, de afeto, de
competências, de ideologias, de conhecer e de aprofundar, cada um com suas
identidades e saberes. Construiremos
sim tijolos, porém, muito mais significativos, com ideias próprias, formadoras
de muralhas que irão modificar a visão do nosso país, transformando num lugar
melhor e mais digno para viver, sem barreiras e preconceito.