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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Para refletir

A integração de ações de políticas governamentais com a sociedade e a escola podem vir a suprir as necessidades locais, culturais, educacionais e gerar projetos para diminuir as desigualdades, através da educação. Isso, entretanto, requer integrar novos conhecimentos na busca de ações que revertam o quadro de exclusão observado no contemporâneo.


Segundo Humberto Maturana, “Sem aceitação e respeito por si mesmo não se pode aceitar e respeitar o outro, e sem aceitar o outro como legitimo outro na convivência, não há fenômeno social“ (MATURANA, 2001, p. 30). Ao refletir sobre tal afirmação, tende-se a aprofundar conhecimentos sobre dinâmica do relacionamento entre si e o outro e o ambiente em que se vive. O desafio é promover uma produção de conhecimentos em prol de uma educação mais inclusiva e humana. Com isso, ao valorizar a diversidade cultural e o meio em que vive, o educador recria uma educação capaz de acolher diferenças e passa a modificar sua prática. Para tanto, aborda-se, neste contexto, estudos da atualidade que possibilitam tematizar e refletir a educação contemporânea. 

O processo de ensino-aprendizagem demanda procedimentos de leituras complexas por parte de quem aprende e de quem ensina. A estratégia necessária para a formação do sujeito faz-se com a reflexão e o pensar. Considera-se a dinâmica de ampliar as condições físicas, psíquicas, cognitivas e culturais pautadas na democracia, na justiça, na igualdade e na eqüidade, através da participação ativa por parte dos envolvidos com a qualidade da educação.
Vê-se na atualidade que atitudes de solidariedade humana e o respeito aos bens naturais precisam ser práticas diárias, freqüentes, realizadas com habilidade, desenvoltura e compreensão do outro, com sentimento de empatia, de forma a ver/ler o sujeito e o funcionamento do universo global.
O contemporâneo torna-se cada vez mais multidimensional, isto é, abrange múltiplos aspectos. O presente e o futuro se confundem e as distâncias não apresentam mais obstáculo para a transmissão de saberes. De acordo com Homi Bhabha, “espaço e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferenças e identidades, de passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão” (BHABHA, 2005, p. 19). Nessa produção, as identidades se misturam e formam novas identidades, de certo modo até mesmo mais elaboradas e aceitas na atualidade, em um diálogo reflexivo sobre a diversidade.


  A ideia está em evidenciar as diferenças culturais, constituindo estratégias de criação de traços identitários (HALL, 2006), para, deste modo, prever valores vindos da noção de sociedade. Torna-se emergente a reflexão dos domínios das diferenças, pois, mesmo dentro das comunidades cujas histórias se comunicam, valores dialogam de forma conflituosa e excludente. Constata-se tais questões na história de diferentes culturas e raças, na violência e vitimização social que ora se observa no mundo atual. 
Para Bhabha (2005), a articulação social da diferença vista pela ótica da minoria se faz complexa em um momento de transformação histórica na atualidade. Ainda segundo o autor, as fronteiras culturais podem possibilitar o consenso ou o conflito, confundir ou definir posições. Visto dessa forma, refletir diversidade cultural não se restringe, apenas, ao reconhecimento do outro, e sim pensar no eu e no outro. Trata-se der uma leitura política, porque discute a relação entre indivíduos e a formação de identidades.
(Texto extraído do livro - FRAGMENTOS)

sábado, 22 de setembro de 2012

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Para refletir e comentar...

Vê-se na atualidade que atitudes de solidariedade humana e o respeito aos bens naturais precisam ser práticas diárias, freqüentes, realizadas com habilidade, desenvoltura e compreensão do outro, com sentimento de empatia, de forma a ver/ler o sujeito e o funcionamento do universo global.

A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
(Paulo Freire)


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um projeto empreendedor
Por Joana Montes
 
O projeto empreendedor da Sala de Recursos, em 2010, possuia como objetivo produzir quadros com pedaços de madeira. Após estudos sobre o artista Cândido Portinari e Tarsila do Amaral os alunos produziram varias obras de arte. O objetivo era realizar o sonho coletivo da sala: passear no shopping, tomar lanche, ir ao cinema, ou seja, um passeio diferente para muitos. Para desenvolver o projeto houve um processo de aprendizagem sequenciado. Primeiro conheceram as técnicas de pinturas, depois fizeram estudos sobre os artistas. Concomitantemente estudaram sobre reciclagem e a importância para o meio ambiente. Os pedaços de madeira eram sobras de marcenarias que, gentilmente, ofertaram para o projeto. O resultado surgiu com releituras das obras e criações próprias. No sábado Letivo, dia da família, a professora do Laboratório de aprendizagem, Célia Coelho, e as estagiárias auxiliaram na venda dos quadros. O resultado foi a união do grupo.

 


OFICINAS DE ARTESANATO EM TECIDO E MODELAGEM  

Durante o ano foram feitas duas oficinas com a colaboração da Professora Eliana Turquetto, uma das integrantes da Equipe de Educação Especial, em apoio à Sala de Recursos e ao Laboratório de Aprendizagem. A professora fez, na primeira oficina, um histórico de como surgiram os tecidos e, depois, com os alunos produziu flores e quadros. Em outro momento, trabalhou com massa de modelar. A massa foi feita com farinha de trigo e água que após modelada, deu origem a enfeites de Natal.

sábado, 14 de julho de 2012

Educação para a cidadania!

O lançamento do livro Fragmentos foi no dia 14 de abril de 2011, na Bienal do Livro de São José dos Campos. Promove um campo reflexivo de redes discursivas geradas pelas comunicações efetuadas no audiovisual e no espectador. Este, mesmo que fora da ação, participa do movimento e interfere ao posicionar-se. As imagens do videoclipe A minha alma, do grupo O Rappa, liberam uma estratégia de comoção do espectador, o qual absorve um sentimento de empatia com os participantes do espetáculo. A tela televisiva torna-se enigmática ao liberar a representação do conteúdo. Uma janela está aberta, instaurada no espaço manifesto e oculto comum aos coadjuvantes, aos atores, aos espectadores e ao olhar solitário que se esconde atrás das imagens, invisível.
R$ 59,00

Introdução à leitura de Lacan - FICHAMENTO

Momentos de estudo coletivo...

Joel Dor é Doutor em psicanálise, sua formação é transdisciplinar, lógica e filosófica é autor de vários livros entre eles:

Introdução à leitura de Lacan – O inconsciente estruturado como linguagem. 

Abaixo, há um fichamento do primeiro capítulo, com o propósito de se levantar algumas questões sobre o assunto, ocasionando reflexões e consenso sobre o mesmo. Deixo expresso que a leitura é complexa e, por vezes, de difícil assimilação, o que ocasionou em escrita na integra, ou seja, como no livro. Daí surgiu à proposta de discussão sobre o texto. Em alguns momentos, busquei respostas em outros textos, os quais serão referenciados no final.
Os contatos podem ser enviados pelo e-mail
joanabsmontes@gmail.com 
ou deixados postados no site.

               
  1. RETORNO A FREUD

A teoria de Jacques Lacan encontra-se estruturada no campo freudiano. A referência freudiana nada mais é do que uma referência a um certo modo de apreensão e de intelecção do inconsciente e concomitantemente a um certo tipo de prática codificada em relação a um tipo de investigação. Portanto, situa o que é de ordem prática altamente psicanalítica em relação a outros procedimentos de investigação do inconsciente. Tal investigação do inconsciente está marcada por uma “inscrição psíquica”, não se tratando de uma entidade abstrata ou metafísica.
Para Freud, os processos psíquicos encontram-se submetidos à dimensão psíquica da linguagem e os pontos de apoio sustentados através da transferência. O estudo da linguagem e da transferência, praticamente, foi iniciado por Freud. Se uma prática analítica é uma prática de linguagem, nem toda prática de linguagem é necessariamente psicanalítica. Sempre que um sujeito dirige-se a outro, haverá transferência. Para tanto, é necessário que o ambiente ofereça condições para efetuar-se. O que irá distinguir radicalmente a prática analítica de outras práticas é o destino que será reservado à dimensão da transferência. 

É no registro da análise da transferência que se desdobrará a prática analítica, no sentido de que ali reside o espaço operatório onde o paciente pode ser convocado à investigação de seu próprio inconsciente e, por conseguinte pode ver-se o mais seguramente confrontado com a questão de seu desejo.” (DOR, P.12, 2003).

Lacan teve como principal preocupação trabalhar na reestruturação da originalidade freudiana da experiência do inconsciente. Tal hipótese audaciosa, “O inconsciente é estruturado como uma linguagem”, torna-se fundamental para toda elaboração teórica lacaniana.
Para Freud, o sonho é uma charada, bem definido em suas investigações (métodos de associações livres) como manifestações psicológicas como a obsessão e a angustia. O método de associações livres permite identificar a significação de manifestações psíquicas de origem inconscientes o que, nos métodos hipnóticos e catárticos, encontram algumas insuficiências e impasses.
O sonho é um discurso dissimulado e disfarçado, no qual o sujeito perdeu o código, mas cujo caráter de estranheza termina por livrar seu segredo num discurso claro e significante (trabalho associativo). O sonho pode significar algo totalmente diferente do que se é enunciado. Para Lacan, aparece como uma propriedade induzida pela estrutura do sujeito falante. Para Freud, é um sistema de elementos significantes análogos aos elementos significantes.
Lacan, em seus primeiros conceitos, sustenta a hipótese do inconsciente estruturado como linguagem. Utiliza elementos da teoria freudiana do sonho para fundar e apoiar a analogia estabelecida entre o funcionamento dos processos inconscientes e o funcionamento de certos aspectos da linguagem, sustentada numa perspectiva de concepção estrutural da linguagem, a qual teve início na obra de Ferdinand de Saussure, a qual indica aos analistas em formação a aprendizagem da lingüística (significante e significado).
O trabalho do sonho recorre a dois tipos de mecanismos fundamentais: a condensação e o deslocamento. Freud observou a presença desses dois mecanismos em suas observações empíricas. Constatou a diferença de “volume” entre o material manifesto e os pensamentos latentes e a exigência de disfarce do sentido intervindo ao nível dos pensamentos latentes do sonho. Distinguiu vários tipos de condensação: a condensação por omissão, na qual a restituição dos pensamentos latentes é muito lacunar ao conteúdo manifesto; a condensação por meio de fusão, superposição do material latente cuja ilustração pode ser apresentada pela elaboração das pessoas coletivas ou pela criação de neologismos obtidos por combinações e fusões sucessivas.
As modificações introduzidas ao longo do sonho entre o conteúdo dos pensamentos latentes e o material do conteúdo manifesto não se devem apenas aos diversos processos de condensação. As ideias latentes encontram-se representadas em relação ao conteúdo manifesto após sofrerem uma modificação importante (inversão de valores ou inversão de sentido segundo Freud).
O trabalho do sonho dá origem a um deslocamento que torna obscuro ao conteúdo manifesto o que era fundamentalmente significante nos pensamentos latentes. Manifesta-se um poder psíquico que despoja elementos de alto valor psíquico de sua identidade graças à sobredeterminação, dá valor maior a elementos de menor importância, os quais podem penetrar no sonho, havendo transferência e deslocamento das intensidades psíquicas dos diferentes elementos.
A atitude estruturalista constitui uma reunião de elementos que compõe um todo e a sua inter-relação com este todo. Esse sistema de relações não aparece imediatamente. Esse procedimento impõe que nos desviemos provisoriamente de um certo modo em relação ao objeto. Trata-se de renunciar um tipo de descrição da natureza dos objetos, de suas qualidades, de suas propriedades específicas. Consiste em dar a possibilidade de advir relações, aparentemente dissimuladas,  existentes entre  eles ou entre seus elementos.
Existe uma hierarquia das estruturas, no sentido de que certas estruturas mais fortes estão em condições de extinguir as estruturas mais fracas. A definição de estrutura é também adequada ao estudo da linguagem.
Segundo Piaget, uma estrutura é um sistema de transformação que comporta leis enquanto sistema (por oposição às propriedades dos elementos) e que se conserva e se enriquece pelo próprio jogo de suas transformações sem que elas ultrapassem suas fronteiras ou recorram a elementos exteriores.
Para ele, uma estrutura comporta três características: a totalidade, que resultaria ao mesmo tempo da independência, dos elementos componentes, da estrutura e do fato de que a reunião de todos os elementos é necessariamente diferente da sua soma; a transformação que necessitaria de leis de composição que definissem operações no interior de uma dada estrutura (estruturantes de uma realidade já estruturada) e a auto-regulação que é a característica essencial da estrutura, significando que esta é suscetível de autoconservar-se (estabilidade do sistema).
Em lingüística, a idéia estruturalista surgiu com a introdução da dimensão sincrônica no estudo da língua, não podendo ser reduzido a uma perspectiva de descrição de uma língua ao longo de sua história, pois a história de uma palavra não permite dar conta de uma significação presente. A significação depende do sistema da língua, cujas leis de equilíbrio estão na dependência direta da sincronia. Há uma relação fundamental entre o sentido e o signo, que podemos observar somente do ponto de vista sincrônico. À medida que a idéia estrutural revela propriedades radicalmente novas, passa a constituir a base de uma abordagem especificamente operatória no campo lingüístico, propagando-se a outros setores das ciências humanas. Lacan irá aplicar esta estratégia estruturalista no terreno da psicanálise.
O sonho, para Lacan, tem a estrutura de uma frase, ou seja, uma charada, que, na criança, é uma representação direta do sentido das palavras através de sinais gráficos e, no adulto, reproduz o emprego fonético dos elementos significantes. Freud ensina-nos a ler as intenções reveladas exteriormente onde o sujeito modula o seu discurso onírico (relativo à natureza de sonho).  
Lacan torna claro que a obra de Freud convoca a introdução de certos conceitos da lingüística no campo teórico da psicanálise. A noção de estrutura só é central na obra de Lacan à medida que ela é constantemente referenciada à estrutura da linguagem, à qual o inconsciente deve ser relacionado, porque é do próprio ato da linguagem que faz advir o inconsciente e o lugar onde ele se exprime.
Saussure rompe com a concepção que faz pensar na unidade lingüística como a associação de um termo a uma coisa. O signo lingüístico não une uma coisa a um nome, mas um conceito a uma imagem acústica. Esta não se trata de um som material, ou seja, físico, mas a marca física deste som. A representação é dada por nossos sentidos. Ela é sensorial, sendo chamada de “material” apenas neste sentido.
O signo lingüístico é a relação aparentemente fixa no sistema da língua, é suscetível de modificações na dimensão da linguagem. As unidades lingüísticas, enquanto entidades psíquicas, não procedem da fala; participam do registro da língua., sendo a língua linguagem menos a fala. A linguagem é a articulação de uma língua falada por um sujeito e por sua vez a fala parte da linguagem que se manifesta como ato individual, por oposição à língua que é social. Portanto, não podemos deixar de citar as expressões  “marca psíquica” e  “representação”.
Podemos dizer que signo lingüístico é uma entidade psíquica de duas faces, cujos elementos são instituídos numa relação de associação. É “relação” e esta é aparentemente fixa no sistema da língua, sendo suscetível de modificações na dimensão da linguagem.
O signo para Saussure exprime a unidade lingüística, preferindo substituir significado por conceito e significante por imagem acústica, tornando o signo a relação de um significado a um significante. Lacan explora esta relação no sentido da autonomia do significante em relação ao significado, a qual só é concebida na medida em que o significante e significado não estão numa relação fixa.
O arbitrário do signo manifesta-se da própria associação do significante do significado. Não parece existir elo necessário entre conceitos e a montagem acústica que serve para representá-lo. Não significa que o signo tenha um caráter aleatório, pois o arbitrário só vale para o conjunto de uma determinada comunidade lingüística. É arbitrário em relação ao significado, o qual não tem nenhuma relação natural com a realidade.
Nos esquizofrênicos encontramos distúrbios bastante profundos da linguagem, parece que a estruturação delirante interpela a diferença que existe entre caráter arbitrário do signo e caráter aleatório do signo. Para Freud, na esquizofrenia as representações de palavras põem-se a funcionar como representações de coisas.
Saussure esclarece, a partir da noção do signo lingüístico, a possibilidade de associação do mecanismo de desconexão do significante e do significado. Tal mecanismo levará Lacan a falar do “desenfreamento do significante”, isto é, o efeito de uma alteração específica da utilização do signo lingüístico. Para Saussure, seria o momento em que o significante depende da livre escolha do sujeito falante. S. Leclaire diz que dois processos podem intervir nesta alteração do signo, seja o significado encontrar-se associado a qualquer significante, ou inversamente. Chegando a conclusão de que a associação significado significante pode ser submetida às possibilidades de combinações aleatórias.
Nos distúrbios psicopatológicos da linguagem como glossolalias, a incidência do processo inconsciente na alteração do signo lingüístico é manifesta além do caráter aleatório das associações significantes e significados. Definimos glossolalias como a aptidão para inventar e falar línguas novas, incompreensíveis para todos com exceção para aquele que fala. Num certo número de casos estas linguagens se fixam e se enriquecem pouco a pouco. O processo de associação é aleatório, porém extemporâneo. O sujeito está alucinado pelo produto de suas próprias invenções lingüísticas, embora freqüentemente fique espantado com tal construção. Trata-se do resultado de um efeito de captura significante, na medida em que a estruturação do signo parece estar completamente submetida ao processo primário do inconsciente.
O significante é livremente escolhido com relação à idéia que representa. Depois de escolhido, passa a impor-se à comunidade lingüística, ou seja, a massa falante, tornando-se imutável. O indivíduo é incapaz de  modificá-lo, assim como a massa não pode exercer soberania sobre uma única palavra, pois está ligada a língua tal como ela é.
O arbitrário do signo é o que dá origem à submissão de uma comunidade lingüística a língua. A palavra está ligada à língua tal como ela é, sujeitando-se o indivíduo à língua. Sendo a alteração do signo resultado da prática social da língua ao longo do tempo e a convenção arbitrária do signo, ou seja, a livre escolha. A alteração do signo dá-se através de um deslocamento da relação significado e significante. Significante, pois há  uma alteração fonética, e significado por haver uma modificação no conceito. Tais alterações estão ligadas à prática da língua no tempo.
“A língua é comparável a uma folha de papel. O pensamento é a face, e o som o verso; não se pode cortar a face sem cortar ao mesmo tempo o verso; assim, também, na língua, não poderíamos isolar o som do pensamento, nem o pensamento do som” (SAUSSURE).
Portanto, a alteração do signo está diretamente ligada à prática da língua no tempo, e o fator tempo é dependente da natureza do significante. O significante é uma seqüência fonética que se desloca no tempo. A fala, a articulação torna presente o desenrolar temporal do significante dando origem à propriedade fundamental da língua, ao qual chamamos de o eixo das oposições ou eixo sistemático, o que Lacan designa como cadeia significante. A língua é estruturada por estar fundada em um conjunto de elementos dados que são os signos. É uma estrutura, pois além dos elementos, supõe leis que governam estes elementos. Com a cadeia significante podemos observar dois problemas específicos:
·         O problema das concatenações significativas;
·         A questão das substituições suscetíveis de intervir nos elementos significativos.
Tais problemas são sancionados em toda língua pela existência de leis internas de natureza diferente, podendo a língua ser analisada segundo duas dimensões ligadas às propriedades específicas: A dimensão sintagmática e a dimensão paradigmática. 
Falar implica efetuar duas séries de operações simultâneas: Selecionar um certo número de unidades lingüísticas no léxico e combinar as unidades lingüísticas escolhidas. Definindo, assim, um corte da linguagem em duas direções: A seleção (eixo paradigmático) que supõe a escolha de um termo entre outros, implicando numa possibilidade de substituição dos termos entre si e a combinação (eixo sintagmático), que requer um certo tipo de articulação das unidades lingüísticas, começando pela configuração de uma certa ordem nas unidades de significação.
JAKOBSON considera o sistema da linguagem em função onde os termos se encontram associados por similitude ou por contigüidade. Os seus estudos sobre afazia o conduzem a esta conclusão. Ele isola dois grandes tipos de afazia que podem ser distinguidos de acordo com o tipo de processo que esteja deteriorado: “de seleção” ou “processo de combinação”. Quando a deterioração recai sobre a escolha lexical (seleção), o afázico dificilmente encontra as palavras. Utiliza no lugar da palavra procurada uma palavra que se encontra numa relação de contigüidade com essa. Quando inversamente a deterioração recai sobre a articulação dos termos lexicais (combinação), o afázico procede por similitude. Estas duas síndromes evidenciam uma propriedade específica do discurso que se desdobra segundo dois tipos de operações: as operações metafóricas (eixo das seleções) e as operações metonímicas (eixo das combinações).
A metáfora e a metonímia nos conduzem igualmente a idéia fundamental de Lacan da supremacia do significante e as suas conseqüências com relação às formações do inconsciente.
Segundo Saussure, a cadeia falada é uma dupla cadeia: cadeia dos conceitos e cadeia das imagens acústicas, de tal forma que toda delimitação introduzida na cadeia das imagens acústicas corresponde uma delimitação subseqüente na cadeia dos conceitos. Uma vez que se sabe existir uma certa firmeza entre significante e significado, podemos imaginar que numa cadeia falada, toda vez que se encontra um significante, este estará necessariamente ligado a um significado. A imagem acústica pode estar ligada a dois signos lingüísticos distintos, sendo que apenas o contexto da cadeia falada permite circunscrever a significação. Ao dizer que o contexto delimita o signo, é afirmar que o signo só é signo em função do contexto. O “valor do signo” é o que faz com que o fragmento acústico torne-se real e concreto, que seja delimitado, fazendo sentido, tornando-se signo lingüístico. Numa língua cada termo tem seu valor por oposição a todos os outros termos. O valor receptivo das peças depende de sua posição e o valor dos termos depende das regras.
Os signos lingüísticos não são somente significativos por seu conteúdo, mas pelas relações de oposição que mantêm entre si na cadeia falada. É o sistema que lhe dá uma identidade significativa.
A linguagem aparece como uma série de divisões simultaneamente introduzidas num fluxo de pensamentos e num fluxo fônico. A língua elabora as suas unidades ao constituir-se entre duas massas amorfas (não tem forma definida), o signo lingüístico corresponde a uma articulação dessas massas entre si. Uma idéia não se fixa apenas num som, mas em uma seqüência fônica que se constitui como significante de uma idéia. Assim também na língua não podemos isolar o som do pensamento, nem o pensamento do som. A língua não comporta nem idéias, nem sons que preexistiriam ao sistema lingüístico, mas unicamente diferenças fônicas e diferenças conceituais.
O significante provém de intervenções, que associamos a um conceito. O surgimento do significante é indissociável do engendramento  do signo lingüístico em sua totalidade.
Para Lacan, o ponto-de-estofo é, antes de mais nada, a operação pela qual “o significante detém, de forma indeterminada, o infinito da significação”. Em outras palavras, é aquilo por meio do qual o significante se associa ao significado na cadeia discursiva.
Cada signo só é significativo na relação de oposição que mantém com todos os outros signos na seqüência falada. Podemos dizer que é sempre retroativamente que um signo faz sentido na medida em que a significação de uma mensagem só advém ao final de sua própria articulação significante.
No delírio tudo se passa como se houvesse uma invasão progressiva do significante, no sentido de que o significante se libertaria pouco a pouco de seu significado. Em geral, é sempre o significado que colocamos em primeiro plano porque seguramente é o que há de mais sedutor na investigação simbólica da psicanálise. Mas, ao desconhecer o papel mediador primordial do significante, que é na realidade elemento guia, não somente desequilibramos a compreensão original dos fenômenos neuróticos, mas tornamo-nos absolutamente incapazes de compreender o que se passa nas psicoses.
A estruturação e a existência do conjunto do aparelho significante são determinantes para os fenômenos presentes nas neuroses, pois o significante é o instrumento pelo qual se exprime o significado. A oposição da metáfora e da metonímia é fundamental. O que Freud chama de condensação é o que se chama, em retórica, metáfora e o que chama de deslocamento, metonímia.
A metáfora (transposição do sentido próprio ao figurado) consiste em designar alguma coisa por meio do nome de uma outra coisa. É, portanto, substituição significante. A medida em que a metáfora mostra que os significados extraem sua coerência unicamente da rede dos significantes, o caráter desta substituição demonstra a autonomia do significante em relação ao significado e, por sua vez, a supremacia do significante.
O processo metonímico (emprego de um nome por outro) impõe um novo significante em relação a um significante anterior. A metonímia testemunha em favor da autonomia dos significantes em relação à rede dos significados e, conseqüentemente, em favor da supremacia do significante. 
As noções de metáfora e metonímia constituem, na perspectiva Lacaniana, duas das pedras fundamentais da concepção estrutural do processo inconsciente.  Estando na origem dos mecanismos que regulam geralmente o princípio do funcionamento inconsciente, evidenciamos a aplicação desses dois paradigmas tanto ao nível do processo primário, como ao nível das formações do inconsciente.
A condensação é o modo de funcionamento dos processos inconscientes, através do qual várias cadeias associativas concentram-se numa única representação (sonho). Pode ser considerada como semelhante a uma substituição significante. A condensação que Freud designa por formação compósita é, na mesma medida, representativa da intervenção de um mecanismo metafórico, cujos elementos latentes, que apresentam características em comum, irão fundir-se entre si e estarão representados ao nível manifesto por um único elemento. Exemplo; “pessoas compostas”, “figuras coletivas”, “composições neológicas” que povoam os sonhos.  
No decorrer do trabalho do sonho, os materiais nem sempre são condensados. A maior parte do material latente pode estar representado ao nível manifesto. Esses materiais latentes  não se encontram representados como tais, com exceção dos sonhos de crianças. A representação manifesta induzirá uma inversão de valores, tal deslocamento de valores induzirá  um deslocamento do sentido.
Nos sonhos irracionais, o deslocamento do valor é, na maioria das vezes, total e o essencial do material latente torna-se perfeitamente acessório no nível manifesto. Nestas condições identifica-se neste mecanismo a própria configuração do processo metonímico. Por conseguinte, representar o essencial pelo acessório é, de certa maneira, representar o todo pela parte.
Se no sonho o acessório manifesto exprime o primordial latente com a ajuda de uma construção metonímica, ainda assim a relação de contigüidade entre os significantes nunca aparece de forma tão evidente quanto nas elaborações metonímicas da linguagem. Esta relação de contigüidade só pode ser evidenciada por associações. Todo trabalho associativo permitirá decodificar a significação latente, metonimicamente disfarçada a nível do conteúdo manifesto do sonho.
Em geral, o processo global do trabalho do sonho é um grande empreendimento metonímico. É sustentado por um mecanismo geral de transferência de denominação, ao que Freud chama de disfarce ou dissimulação do sentido. O sonho só resiste à significação na medida em que esta resistência é, justamente, o produto do trabalho do sonho. Lacan coloca que a resistência à significação da metonímia deve-se ao fato de que a metonímia é sempre o não sentido aparente.
A  resistência à significação depende da cadeia dos diversos materiais intermediários postos em conexão pelo próprio trabalho do sonho, percorrendo a cadeia destes materiais em contigüidade, tratando-se de percorrer o caminho trilhado pelo processo metonímico.
A análise estrutural entre certos processos de linguagem e certos processos inconscientes identifica-se, além do sonho, em outras formações do inconsciente para não dizer em todas. O dito espirituoso é uma delas e apresenta a vantagem de conjugar simultaneamente a condensação metafórica e o deslocamento metonímico. Freud percebeu a identidade de estrutura que podia existir entre o mecanismo da condensação e a construção de certos ditos espirituosos. O dito espirituoso procede igualmente por substituições, logo, por metáforas. A elaboração pode utilizar uma outra técnica explorando o registro inconsciente do deslocamento que, segundo Freud, reside no desvio do curso do pensamento, no deslocamento da importância psíquica de um tema primitivo para um tema diferente. O dito espirituoso estruturado de modo metonímico advém no lugar de uma outra formação do inconsciente: o lapso. A formação do inconsciente “mista” revelará sua solução explicativa numa série de associações que trarão à luz a construção metonímica subjacente.
Lacan observa que o sintoma resolve inteiramente uma análise de linguagem, porque ele próprio está estruturado como uma linguagem, porque é linguagem cuja palavra deve ser liberada. O sintoma é um retorno da verdade. Ele não interpreta a não ser na ordem do significante, que só tem sentido em sua relação com outro significante. Da mesma forma, se o sintoma é uma metáfora não é metáfora dizê-lo, pois o sintoma é uma metáfora quer queira ou não dizê-lo. O sintoma constitui uma justificativa suplementar à tese do inconsciente estruturado como uma linguagem.

Depois de alguns dias postarei o 2º e 3º capítulos...
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